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Neste post, Mauro Carrusca usa uma linguagem simples e direta, sem tecniquês ou corporativês, para mostrar um contraponto entre os cuidados exigidos pela terra, como preparar, cultivar e colher com as demandas impostas à startup para que ela possa prosperar.

Desenvolver um novo negócio assim como iniciar algum tipo de cultivo não é trivial. O ímpeto, a vontade, o entusiasmo são muito importantes, mas a plantação não vinga sem cuidados especiais. Entre eles estão a preparação adequada do solo, adubação e irrigação necessárias ao cultivo escolhido. E para o negócio não é diferente. Uma ideia inovadora, consistente e aderente às demandas do mercado, uma equipe multidisciplinar e um planejamento cuidadoso para execução são também pontos muito importantes.

Mas, em ambos os casos, o sucesso está muito relacionado a como nos preparamos para as adversidades e intempéries. Clima, seca, pragas, produto substituto, concorrência, financiamentos, quebras na equipe entre outros tantos problemas importam muito.

O ponto-chave é como reagimos a elas. Por isso, dedicação, trabalho duro e capacidade de reação são cruciais.

“O documento da terra não vai lhe dar mais milho, nem feijão. Não vai botar comida na nossa mesa. (…) Está vendo esse mundão de terra aí? O olho cresce. O homem quer mais. Mas suas mãos não dão conta de trabalhar ela toda, dão? Você sozinho consegue trabalhar essa tarefa que a gente trabalha. Essa terra que cresce mato, que cresce a caatinga, o buriti, o dendê, não é nada sem trabalho. Não vale nada. Pode valer até para essa gente que não trabalha. Que não abre uma cova, que não sabe semear e colher. Mas pra gente como a gente a terra só tem valor se tem trabalho. Sem ele a terra é nada.”

Esse trecho, retirado do livro “Torto Arado” (2018) – Itamar vieira Junior (Vencedor dos prêmios Oceano e Jabuti), na minha concepção é uma obra prima pelo jogo de palavras e significado que o autor conseguiu expressar. A leitura me remeteu imediatamente à saga (muitas vezes espetaculosa) que envolve a formação e desenvolvimento de startups. Sobre esse propósito, publiquei em 25/09/2017 o artigo (https://keroinovar.com.br/startups-um-novo-mundo-dentro-do-velho-mundo/) no qual falei sobre os sonhos e desafios do mundo empreendedor e também sobre o conceito de startup.

O que esse trecho belíssimo e visceral tem a ver com o artigo mencionado, aliás publicado um ano antes desse livro?

Poderia sintetizar a resposta em duas palavras: dedicação e trabalho.

Digo isso pela minha longa vivência no meio, tendo participado de inúmeras discussões (mentorias e avaliações), com os próprios empreendedores sobre o sonho de se tornar mais um “pop star” do empreendedorismo e se transformar em um unicórnio em tempo recorde (ou seja, sua startup atingir o valor de mercado superior a 1 bilhão de dólares). Todo esse glamour será atingido de forma “exponencial” (para usar uma palavra da moda) a partir de sua ideia que, na concepção do time de empreendedores, via de regra, é “totalmente disruptiva”.

O sucesso não chega por acaso

Voltando ao trecho do livro, uma personagem luta para conseguir o documento da posse da terra (não que esse não seja importante). Mas o narrador traz a reflexão de que é preciso algo mais. É preciso “trabalhar a terra”, dedicar trabalho, semear, cultivar, cuidar, tirar as ervas daninhas para só então colher seus frutos. E diz mais: sozinho não se chega a lugar nenhum. Todo mundo sabe que é o trabalho de muitos que gera boas colheitas.

Há uma expressão que gosto muito de usar: o cemitério está cheio de boas ideias.

A mensagem que gostaria de deixar é que, assim como a terra sem trabalho e sem várias mãos ajudando no seu cultivo só nasce mato, uma boa ideia sem um time de empreendedores não chega a lugar nenhum. É necessário incluir mais mãos e cérebros para colaborativamente, desenvolverem ainda mais a ideia e seu propósito. A busca por network, eventos, apoio financeiro e aceleração (funding) são evidentemente importantes. Mas sem o trabalho árduo de alavancar e tornar o negócio real, a partir da ideia inicial, a coisa não vai. Afinal, quem vai investir ou apoiar um nada?

Power-point bonito não garante emissão de nota fiscal.

Para ser realmente um startup é necessário um grupo coeso, que saiba pensar e trabalhar horizontalmente, dando importância a cada cérebro e tendo em mente que uma ideia trabalhada passa a ser de todos. Isso é colaboração.

Desta forma, acredito no sucesso do empreendimento e que possa satisfazer o conceito inerente a uma startup que é ter uma ideia de valor, com uma proposta de valor significativamente diferente e que alcance um número muito grande de clientes e de forma muito rápida.

Caso contrário, o cemitério de boas ideias passa a ser o destino iminente.

Crédito: Foto Rodolfo Clix no Pexels

Mauro Carrusca

Estrategista em Inovação e Empreendedorismo pela Babson College – USA. Conselheiro de Empresas em Inovação e Visão de Futuro. Evangelista em ESG através da Inovação Colaborativa.  Ex-executivo e consultor da IBM Silicon Valley (USA) e IBM Brasil. CEO, VP de AgTech da SUCESU Minas e founder da KER INNOVATION. (https://www.linkedin.com/in/maurocarrusca/).

Te convidamos a navegar pelo site para conhecer o conceito de Inovação Colaborativa e acessear outros artigos e posts.

O Leilão 5G abriu novas e importantes perspectivas para impulsionar vários setores e também impactar a agenda ESG no país. Conectividade, streaming, telemedicina, veículos autônomos… tudo muda com o 5G. Mas, antes de mais nada é preciso que fique claro que o 5G não é uma evolução do 4G. É uma nova tecnologia que vai impulsionar de vez a conectividade no Brasil. Veja abaixo por que.

Vamos entender melhor

Na nomenclatura XG, esse “G” é de geração e, quando se trata de tecnologia, isso evolui muito rápido. Veja que no início dos anos 2000 foi lançada a terceira geração de rede móvel (3G) que, em 2018, atingiu uma velocidade média de pouco acima de 8,82 Mb/s . Hoje essa rede cobre praticamente todo território nacional, de acordo com a ANATEL. 

10 anos depois já era lançada a geração 4G (rede LTE – Long Term Evolution), que melhorou principalmente a velocidade de conexão e o tráfego de dados. Isso permitiu, por exemplo, assistir vídeos em tempo real nos celulares. Para se ter uma ideia dessa evolução, a velocidade da rede 4G é mais que 2 vezes à da 3G, atingindo uma média de 19,8 Mb/s. Segundo o Ministério das comunicações, já em julho/21 teremos a disponibilidade (nas capitais) da quinta geração de rede móvel, ou 5G.

O 5G significa um salto exponencial

Repetindo, o 5G não é uma evolução do 4G e o salto será exponencial, pois essa tecnologia entrega uma velocidade de conexão 100 vezes maior que o 4G. Ou seja, saltamos de 19,8 Mb/s para 10 Gb/s (cada Gigabit/s corresponde a 125 Megabytes/s).

E não é somente a velocidade que será impactada. O 5G permitirá também uma maior capacidade de banda larga, mais dispositivos conectados ao mesmo tempo (show para IoT!), utilização de streaming com alta qualidade, menor tempo de latência (também conhecida como Ping).

Com isso, as conexões de baixa latência vão permitir inúmeras possibilidades. Além de um tempo de respostas em tempo real, traz benefícios para a telemedicina, fones de ouvidos, óculos de realidade aumentada, movimento instantâneo de um sistema de direção automática e comunicações entre carros autônomos (tanto carros comuns como veículos autônomos destinados ao agronegócio), serviços de inteligência artificial e nuvem, entre outros.

Entre todos os setores da economia que serão beneficiados por essa tecnologia, o agronegócio, sem nenhuma dúvida, é um dos principais e está rindo à toa. Um segmento fundamental da economia brasileira terá agora um mundo de oportunidades para o “agronegócio de precisão” e a possibilidade de consolidar o Brasil como o “restaurante do mundo”.

Números significativos foram obtidos no leilão – mais de R$ 47 bilhões arrecadados -, sendo que aproximadamente R$ 40 bilhões serão revertidos em investimentos para ampliar a infraestrutura de conectividade no Brasil.

E mais…

Em pleno hype do ESG, que convida as empresas a melhores práticas em três pilares: preocupações ambientais, responsabilidade social e uma governança com destaque especial para práticas mais transparentes, esse leilão significa impulsionar o desenvolvimento econômico do setor do agro pelo avanço na conectividade, geração de empregos, impostos e, principalmente, a inclusão digital que, por sua vez, tem tudo a ver com pilar social do ESG.

Uma das tecnologias que mais se beneficiarão com o 5G é a IoT (Internet das Coisas). Recomendo a leitura do artigo 7 Ways the IoT Makes Farming More Precise que mostra como essa tecnologia pode consolidar a agricultura e a pecuária de precisão. 

Mauro Carrusca é estrategista de inovação e empreendedorismo e CEO da KER Innovation.

É Engenheiro Eletrônico, Professor e Especialista em Inovação e Empreendedorismo pela Babson College – USA.
Conselheiro de Empresas em Estratégia de Inovação e Visão de Futuro. Estrategista em ESG através da inovação colaborativa. Foi executivo e consultor da IBM – USA (Silicon
Valley) e IBM Brasil. CEO e founder da KER Innovation. Atua como Vice-presidente de AgTech da SUCESU Minas, membro do Conselho de Inovação da ACMINAS e do Conselho de
Presidentes MG e consultor da FGV. Idealizador da Plataforma KER – modelo de gestão colaborativo. Um dos realizadores do movimento de inovação aberta IDEAS FOR MILK da EMBRAPA. Idealizado do 1º coletor de dados nacional. Palestrante em eventos nacionais e internacionais.
Coautor do livro “Pinceladas de Inovação”.