A revolução das AgTechs não para
A crise provocada pela Covid potencializou um boom para alimentos e tecnologias agrícolas em 2020, fazendo decolar o número e investimentos em AgTechs em todo mundo. No Brasil, em 5 anos, o número de startups voltadas ao agronegócio cresceu quase 2000%, ou seja, 20 vezes o número registado em 2015.
De acordo com um novo estudo da Finistere Ventures, que não considerou startups brasileiras, as startups de alimentos e agricultura atraíram um recorde de US$22,3 bi em financiamento de risco em 2020 – o dobro do que esses segmentos arrecadaram em 2019.
O cenário brasileiro
Em 2016, durante a Agrishow, em Ribeirão Preto, conduzi o painel internacional “Innovation in Sugarcane and Etanol Business” em um seminário promovido pela Unicamp/Fapesp, quando tive a oportunidade de mostrar o desenvolvimento das startups do agro no Brasil. Esse seminário foi um dos resultados da missão de governo que realizamos, com apoio da Universidade da Califórnia, com o objetivo de conhecer a inovação no agronegócio no Silicon Valley.
Em 2015, o Agronegócio brasileiro já era muito importante para o PIB brasileiro e as startups direcionadas ao setor do agro representavam apenas 2% no universo de 4.151 startups existentes no país. Naquela época longínqua, há apenas 5 anos, contávamos apenas 80 startups do agro. Segundo a ABStartups, de 2015 até 2019, o número de startups no país mais que triplicou, passando de 4.151 para 12.727 (um salto de 207%), tendo seu grande boom em 2018. Veja aqui os dados da ABStartups.
Em cinco anos, o setor do agronegócio mostrou uma grande pujança e aumentou sua participação no PIB brasileiro. Em 2020, alcançou participação de 26,6%, o que corresponde a quase R$ 2 trilhões de um total de R$ 7,45 trilhões.
Publicado na última sexta, 28 de maio, o estudo intitulado “Radar Agtech Brasil 2020/2021” revelou que, desde 2019, o número de startups de tecnologia para o agronegócio cresceu 40% e estima-se que 1.574 AgTechs estão ativas no país.
Esse estudo para mapeamento do número de agtechs ativas no Brasil foi elaborado através de uma parceria entre Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), a SP Ventures e o Homo Ludens Research and Consulting. Veja em https://radaragritech.com.br/dados-2020-2021/.
Esses números nos permitem conclusões interessantes. Em 5 anos o número de startups em geral, como dito acima, avançou 207% e o que o que mais impressiona é a velocidade de crescimento do número de startups voltadas ao agronegócio. Neste período, o crescimento foi de 20 vezes, quase 2000%! E, como em 2015, a grande maioria (48%) permanece no estado de São Paulo, demonstrando uma grande concentração e especialização.
Quando comparamos o estudo de 2020 e 2019, observamos que o número de startups que apresentaram soluções na categoria conhecida como “dentro da fazenda” teve um aumento significativo de 66%. As agtechs com soluções para “depois da fazenda” cresceram 35%.
Veja quadro abaixo:
Número de startups por categoria
O cenário internacional
Apesar do segmento do agronegócio enfrentar um tsunami de crises que vão de mudanças climáticas, passando por secas, escassez de trabalhadores ao aumento dos custos trabalhistas, o lado bom é que a demanda global continua a crescer por alimentos frescos.
E as startups continuam a dar um show à parte…
Através da “agricultura vertical” as startups disputam nos EUA uma indústria de alface e salada estimada em US$ 20 bilhões.
E a ousadia não para em busca da fazenda inteligente (smart farm). A inovação vai do céu ao solo: drones monitoram e pulverizam pesticidas de cima; tratores automatizados cultivam o solo; sistemas de irrigação por gotejamento alimentados por IA alimentam as plantações e robôs coletores de frutas os colhem.
Os investidores estão apostando alto na gestão de fazendas com base em tecnologia. Como alguns exemplos, a startup israelense Prospera, adquirida por US$300M, tem como objetivo se tornar a “maior empresa de IA do mundo na agricultura). A startup indiana Intello Labs, que ajuda agricultores a monitorar a qualidade da safra, arrecadou US$5,9M e a startup americana Indigo (Boston) que arrecadou outros US$360M para ajudar os agricultores a vender créditos de carbono.
As startups vêm investindo pesado em plataformas de comércio eletrônico. A ProducePay (nascida num projeto de classe na Universidade de Cornell-EUA) levantou outros US$300M para sua bolsa de comércio de commodities para frutas e vegetais perecíveis e a startup da Indonésia, TaniHub Group, arrecadou US$65,5M para ajudar os agricultores a obter melhores preços e mais clientes para suas safras.
Não temos dúvidas que a crise provocada pela Covid potencializou um boom para alimentos e tecnologias agrícolas em 2020. As startups de alimentos e agricultura atraíram um recorde de US$22,3 Bi em financiamento de risco no ano passado – o dobro do que esses segmentos arrecadaram em 2019, de acordo com um novo estudo da Finistere Ventures e que não considerou startups brasileiras. Mas, como mostra o estudo Radar Agtech Brasil 2020/2021, o segmento de startups brasileiro voltado ao agronegócio não fica a dever e vem sendo responsável por colocar o Brasil como um dos principais protagonistas do agro mundial.
Fontes: AngelList, ABSstartups e Radar Agtech Brasil
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Mauro Carrusca é estrategista de inovação, professor, conselheiro de empresas em visão de futuro e CEO e founder da KER Innovation. Atua como Vice-presidente de AgTech da SUCESU Minas, Membro do conselho de inovação da ACMINAS e do Conselho de Presidentes MG. Foi executivo e consultor da IBM Brasil e IBM Estados Unidos.
Idealizador da Plataforma KER – modelo de gestão baseado em funções colaborativas. Coautor do livro “Pinceladas de Inovação”.
É engenheiro eletrônico e de telecomunicações pela PUC Minas, especialista em Inovação e Empreendedorismo pela BabsonCollege – USA. Possui MBA em Administração de Projetos e em Ciência da Computação.
É Palestrante em eventos nacionais e internacionais.